quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O PIANO, 1993, DE JANE CAMPION



Filme: The Piano
Diretora: Jane Campion
Roteirista: Jane Campion
Elenco: Holly Hunter (Ada MacGrath), Ana Paquin (Flora MacGrath), Sam Neill (Alisdair Stewrat) e HArvey Keitel (George Baines)
Ano: 1993



O Piano não é um filme novo, mas é sempre um prazer revisitá-lo.

O filme se passa no séxulo XIX e conta a história de uma mulher escocesa, Ada McGrath , que não fala (ou se recusa a falar) desde os seis anos, e que tem uma filha chamada Flora McGrath. Ada se comunica com as pessoas através de gestos, mas, sobretudo, através de sua filha que lê as anotações em um bloquinho que ela carrega pendurado no pescoço.

A vida de Ada se transforma quando é oferecida em casamento a um homem (Alisdair Stewart) que reside na Nova Zelândia. Ele é um colonizador que negocia com as etnias locais, os maori. Lá vive um outro homem branco (George Baines), culturalmente híbrido, que se apaixona por Ada e que a seduz através do piano, levado durante a viagem, mas que fica na praia devido ao seu peso. Sabendo do valor do instrumento para Ada, Baines trata de buscar o piano, mas condiciona a devolução a algumas concessões: de tocá-la, acariciá-la, enquanto ela toca. No decorrer, Ada resiste, mas, por fim, se apaixona.

Em um dado momento, depois de negociar as "aulas" de piano pelo número de teclas pretas existentes no instrumento, Baines recua em sua estratégia, convencendo-se e convencendo-a de que a estava prosituindo. Mas Ada, acostumada com a recompensa, já estava envolvida e, a partir daí, tornam-se amantes. O marido descobre e amputa um dos dedos de Ada a golpes de machado. Baine e Ada são deportados da Ilha e com um dedo indicador artificial, ela passa a dar aulas de piano na cidade.

O Piano é um filme que trata de várias questões que se entrecruzam: questões étnicas, de gênero, colonização, que nos permitem leituras sob vários prismas. Contudo, fica muito claro que a colonização foi feita dentro de uma política de opressão racial, étnica e de gênero. O filme deixa entrever as contradições, por exemplo, do próprio Baines, homem branco, que, embora tenha acesso a cultura maori, e mais sensível às questões étnicas locais, age dentro de uma lógica de opressão de gênero, já que se utiliza de estratégias de estímulo-recompensa para seu benefício, fazendo Ada subordinar-se e realizar os seus interesses. Ao tentar condicionar o acesso da mulher ao piano através de favores sexuais, o personagem constrói um ciclo em torno do qual a mulher precisaria passar para obter o seu prazer, isto é, o homem se coloca como meio para a mulher obter qualquer tipo de prazer, satisfação, tornando-o necessário. Isso fica claro quando Ada, já com o piano em casa, se nega a tocá-lo. O objeto de desejo de Ada, que era o piano, é substiuído pelo objeto de desejo homem. No final do filme, esses desejos são fundidos, pois ela retoma a relação com Baine e volta a tocar.

As tensões também são mostradas quando Ada está com o marido, já que este se sente desempoderado por não conseguir se aproximar da esposa tanto afetivamente quanto sexualmente. Essa impotência desliza para uma violência extrema quando descobre que Baine e a esposa são amantes, situação que o afronta duplamente em relação a Baine e a Ada, ambos desafiando-o em sua masculinidade. Além disso, o marido é um negociante muito ruim com os maori o que o leva a depender sempre de Baine para mediar o conflito.

Além das questões de gênero, atravessam na narrativa fílmica questões sobre a colonização, ao expor as estratégias, sobretudo da igreja, no processo de aculturação. A religião faz uso do teatro para impor uma moral cristã ao povo maori, induzindo-os a punirem aquele que desafia a ordem patriarcal. Uma cena emblemática mostra os homens nativos incidindo contra o palco em defesa da mulher, vista por detrás de um pano branco sombreada pela luz, que está sendo agredida por um machado - numa clara alusão ao caso de Ada e Baines - por um homem. Esse gesto dos nativos mostra que o patriarcado nos países colonizados esteve atrelado a uma opressão étnico-racial e que naquele grupo étnico a relação de gênero era diferente do que o código ocidental sustentava.

O Piano é um filme para ser ver muitas vezes por tudo que ele faz sucitar.




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