terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Dirigir filmes: uma tarefa penelopeana

Sandra Werneck, aos 58 anos, tem despontado como uma das diretoras brasileiras mais atuantes no momento. Os filmes sob a sua direção em geral são bem aceitos pelo público: Pequeno Dicionário Amoroso (1997), Amores Possíveis (2001), Cazuza - O Tempo não Pára (2004), Meninas (2006), Sonhos Roubados (2009). Os dois primeiros seguem um filão holywoodiano das comédias românticas, mas os três últimos possuem carga dramática mais densa. No entanto, sabemos o quanto é difícil adentrar no espaço da direção. Uma das mais conhecidas e antigas, Suzana Amaral, aos 77 anos, dirigiu quatro filmes, o que mostra a grande dificuldade no Brasil para as mulheres atuarem como diretoras.

Para se ter uma idéia, um diretor da mesma geração, Nelson Pereira dos Santos, 81 anos, dirigiu vinte e oito filmes; Ruy Guerra, aos 78 anos, dirigiu dezoito filmes; Bruno Barreto, da mesma geração que Sandra Werneck, com 54 anos, já dirigiu vinte filmes. Isso apenas para mostrar de uma maneira panorâmica que a linguagem tem sido dominada e controlada pelos homens, principalmente a linguagem artística. Na literatura, o cânone foi construído a partir de critérios para qualificar as obras. As antologias, tão usadas nas escolas, traziam sempre os mesmos autores e obras, ajudando a erigir um "gosto" literário. Da mesma forma, o cinema lança mão de estratégias semelhantes, pois quando se deseja falar em filmes clássicos ou cult, e aqui já temos uma valorização da obra, são citados os mesmos autores: Fellini, Truffaut, Bergman, Hitchock e alguns poucos. As mulheres não fazem parte dessa constelação. Os filmes chamados "cult" são considerados de "arte" e, para alguns, dizer que gosta de Trauffaut é o mesmo que assinar o epíteto de intelectual.

Essa forma de catalogar as produções acaba auratizando os diretores e reservando às diretoras um lugar secundário. Acredito que existam formas de fazer cinema e que cada diretor lança mão de recursos cinematográficos para dizer algo ao espectador. Acontece que, quando o cineasta usa mais a linguagem cinematográfica, experimentando mais os recursos técnicos, costuma-se a valorizar mais o seu produto. Isso não significa que os filmes dirigidos e escritos por mulheres devam ser canonizados, talvez colocá-los no mesmo patamar. O que faz, por exemplo, um filme E La Nave Va, de Fellini, ser um clássico e Eve's Bayou (Amores Divididos, 1997), de Kasi Lemmons não ser ou, ainda, para não entrar na armadilha de ratificar a mesma lógica, por que não dizer que os dois filmes atenderam aos seus propósitos?

As diretoras brasileiras embora tenham produzido quantitativamente menos filmes do que os homens, o que elas vêm fazendo têm dado bons resultados fílmicos. Carla Camurati, 49 anos, por exemplo, dirigiu e escreveu, juntamente com Melanie Dimantas, um dos filmes mais importantes da filmografia brasileira: Carlota Joaquina - A Princesa do Brazil (1995) . O premiado filme teve uma boa aceitação da crítica e do público diante do recurso de interseccionalizar cinema e história com uma visão parodística e desmitificadora e, portanto, crítica da chamada "história oficial" produzida pelo discurso masculino para mostrar seus feitos heróicos. No filme de Camurati, não há heroísmo algum em D. Pedro I e a princesa Carlota Joaquina está longe de ser a personificação das princesas dos contos de fada.

Sinopses

Tenho o hábito de ler as sinopses de filmes, muito mais como exercício de leitura do que como guia.

Em geral, os textos sinóticos são produzidos para um espectador potencial e para isso eles devem seguir principios específicos para cumprir o seu propósito, isto é, fazer com que alguém se sinta  suficientemente atraído a sair de casa, enfrentando os riscos das ruas e das salas de projeções, para ver uma película. Não é de se estranhar que as sinopses tendam a selecionar aspectos esperados do gênero do filme para seduzir o grande público.

Em se tratando dos filmes dirigidos por mulheres há uma questão para nós, críticos e críticas, importante. As sinopses seguem os estereótipos do gênero do filme, mesmo que o gênero e o tema sejam apenas motivo aparente para uma discussão subjacente. Uma comédia romântica é um gênero leve, com menos carga dramática, que apresenta temas referentes a relações conjugais e familiares. No entanto,  temos que ultrapassar as constatações imediatas para realizarmos articulações mais complexas, percebendo, por exemplo, a ideologia de gênero materializada no filme e a forma como o filme apresenta o tema.

As sinopses ficam presas as histórias, à narrativa, e menos à análise. Não é o seu propósito. Cabe ao crítico e à crítica de cinema ver como as narrativas fílmicas se desenvolvem, são montadas, para ver se existe algum contraponto, ainda que sutil, em relação às convenções sociais de gênero.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

ENQUANTO ELA ESTÁ FORA (WHILE SHE WAS OUT), 2008


"In every dream home a heartache
And every step I take
Takes me further from heaven."
(Brian Ferry)

Direção: Susan Montford
Roteiro: Susan Montford
Elenco: Kim Basinger, Lukas Haas, Craig Sheffer, Luiz Chávez

O filme ENQUANTO ELA ESTÁ FORA (WHILE SHE WAS OUT) é de 2008, mas não cheguei a assistir na época em que passou nos cinemas (se é que chegou aqui em Salvador). Visitando uma loja de Departamento, encontrei um exemplar que logo me chamou a atenção pela capa e pelo título, sobretudo pelo fato da direção e roteiro serem assinados por uma mulher, o que para mim foi suficiente para adquiri-lo. Acertei. Nunca um filme de suspense e ação me agradou tanto ultimamente quanto esse. A capa traz uma mulher sentada no chão, exibindo uma aparência amedrontada e logo atrás dela, mais distante, a sombra de um homem. Uma imagem clichê, mas que quando associada ao titulo atiça a curiosidade: Ela está fora... mas de onde? Bem, em se tratando de um filme dirigido por uma mulher e como sou feminista, interpretei imediatamente fora como espaço da rua e dentro como espaço da casa, o que veio a ser confirmado durante a exibição.

O filme traz como protagonista Della (Kim Bassinger) uma mulher de classe média, suburbana, esposa infeliz cujo marido a trata com desprezo e violência. É também mãe de um casal de crianças gêmeas. No dia de Natal, Della sai à noite para comprar papel de presente. No estacionamento, vê um carro tomando duas vagas e resolve deixar um recado no pára-brisa. Ao retornar das compras, quatro rapazes a cercam, incomodados com a mensagem escrita. Um segurança do shopping tenta intervir, mas é logo assassinado. Na confusão, Della consegue entrar no carro e escapar, passando a ser perseguida pelos quatro bandidos. Ela adentra em uma área reservada a construção de casas feitas de madeira que fica próxima a uma mata. Della colide o carro contra um tronco, mas escapa do lugar, e como faz curso de mecânica, levou apenas uma caixinha de ferramentas com a qual ela consegue se defender dos agressores.

Já dentro da mata, desesperada e com a idéia fixa de reencontrar os filhos, a personagem mata todos os bandidos, um por um. O primeiro morre com o pescoço quebrado durante a perseguição. O segundo é atingido por uma chave de roda enfiada no nariz e que atravessa o crânio. O terceiro morre com uma grande chave de fenda enfiada no pescoço, traspassando a garganta. O terceiro tem uma morte mais demorada, já que, além de estar armado, é o líder da gang. Ele consegue se aproximar da personagem com a arma presa ao cós da calça na parte de trás, engatando uma conversa sobre os filhos. Diante da pressão psicológica, Della se apresenta e começa a partir daí um jogo de sedução, com o bandido tentando desestabilizá-la emocionalmente, aguçando a sua libido. Della percebe a estratégia e no decorrer da ação assume o controle, fingindo-se atraída. O bandido se aproxima e lhe toca o rosto. Della, por sua vez, corresponde às carícias do bandido e lhe beija sofregamente, passando a idéia de que o desejava intensamente. Ele tenta resistir e saca a arma, mas tem dificuldades em controlar seus desejos - quer dominá-la, vencê-la de todas as formas, subjugá-la sexualmente antes de matá-la. Ela tenta se desviar da arma e pede a ele para transarem. Buscando se aproveitar da situação, ele se descuida e com isso ela lança contra o rosto do bandido um sinalizador que estava em seu bolso (ela vestia um sobretudo). Com posse da arma, ela atira e o mata. Cambaleando, Della chega ao carro e tenta chegar em casa, mas com uma estranha e aparente tranquilidade, mais perto de um estado de choque. Próximo ao portão do condomínio, o carro enguiça. Ela desce e atravessa o portão cantarolando e ajeitando os enfeites natalinos nos jardins das casas. Entra em sua casa e é recebida com reclamações pelo marido, questionando o horário de chegada e o fato de estar sujando a casa de lama. Ela sobe as escadas e beija os filhos que já estão dormindo. O marido não percebe o seu estado e, sentado confortavelmente, pergunta de forma grosseira e autoritária como de costume, o que tinha comprado para ele. Ela responde: "nothing*" (*nada) e aponta a arma contra o rosto dele. O cano da arma aparece de frente para o espectador que vê a cena do lugar do marido. Vale a pena ressaltar um aspecto importante nessa cena sobre a linguagem fílmica e que nos ajuda a entender o que Laura Mulvey queria dizer sobre o conceito de “male gaze”. Mulvey defende a idéia de que o cinema, por ser um lugar historicamente ocupado por homens, construía as personagens a partir do olhar masculino, deixando transparecer para o espectador a sua visão de sujeito olhando para o outro, o objeto. A espectadora tinha pelo menos duas possibilidades de identificação: com a mulher do filme e, portanto, vendo-se como objeto de desejo do homem ou no lugar do homem, podendo sentir prazer com a forma de subjugar a mulher, causando um efeito complexo, pois mesmo que ela se identifique com o poder do homem presente no filme, ela não deixa de semioticamente se ver representada na personagem feminina, o que pode desencadear um efeito sadomasoquista em que o prazer se constrói na relação dor/prazer. No caso do filme, entendo que o olhar é feminista ("feminist gaze"), pois a câmera ao se posicionar no lugar da personagem masculina captura a imagem da mulher de baixo para cima, já que ele está sentado e ela em pé, construindo semioticamente uma personagem feminina empoderada.

Concordo com André Setaro, crítico de cinema renomado, professor do curso de Comunicação da UFBA, quando diz ser importante um mínimo de conhecimento da linguagem do cinema para melhor compreender um filme. Compartilho dessa idéia porque penso que a estrutura, a técnica, não estão dissociadas da ideologia, muitas vezes associada apenas ao conteúdo da mensagem. A ideologia está presente no texto como um todo e também no contexto. Assim,  conhecer os efeitos provocados pela posição e movimento da câmera é fundamental para termos uma dimensão da atitude política de quem dirige o filme, pois cada movimento de câmera tem um propósito e um efeito a provocar no espectador sobre o que se está querendo dizer com o tema proposto. Aliás, o cinema possui várias formas de dizer que não apenas através dos diálogos escritos no roteiro, mas  também: 1) como eles são encenados pelos atores, 2) através da montagem, 3) do cenário, 4) da sonoplastia, 5) das cores, 6) do ritmo das mudanças de cenas e tomadas dos planos e ângulos, a7) través da escolha do tipo, tamanho e cor da fonte, 8) seleção do elenco, etc. Portanto, analisar um filme exige um conhecimento do dispositivo teórico de análise e das técnicas específicas do objeto artístico.

Sendo assim, é a partir do dispositivo de angulação que vemos no final do filme ENQUANTO ELA ESTÁ FORA uma outra mulher surgir, já que no início a personagem aparece acuada, com medo do marido, mas que no final, devido a situação pela qual passou, os perigos da vida fora do espaço da casa, acabaram por fortalecê-la a ponto de enfrentar o marido. Esse empoderamento é mostrado através da imagem da protagonista capturada  pela câmera com “ângulo baixo”, colocando a personagem em posição de superioridade e dominância, valorizando a imagem capturada, nesse caso a personagem principal feminina. É devido a um aspecto da linguagem cinematográfica que podemos chegar a conclusão de que o filme pode ser considerado feminista, pois a narrativa se desenvolve com a mudança de atitude da mulher: de submissa e subserviente a destemida e corajosa. É nesse sentido que dizemos que o filme possui um “feminist gaze”.

A vida da protagonista pode ser dividida em dois momentos no filme: antes e depois da agressão no shopping. Embora ela também seja agredida em casa pelo marido, a experiência que ela vive na rua a transforma radicalmente, pois não tem alguém para protegê-la. A necessidade de sobrevivência lança a personagem para uma posição de enfrentar e liquidar o perigo e essa consciência a deixa mais segura, pois precisa decidir sobre cada ação, ainda que no filme as mortes tenham sido mostradas não como um prazer para a personagem, como aparece nos filmes protagomizados por homens, mas como se aquela situação a levasse a cometer aqueles atos, o que pode significar que as mulheres precisam muitas vezes superar as limitações culturais de gênero impostos pela sociedade no exercício dos papéis para os quais foram educadas, para, através dessa ruptura, poderem sobreviver no espaço fora desse círculo. A personagem cresce, assume o controle da situação, de sua vida, ao mesmo tempo em que o marido diminui em seu poder sobre ela. As desafios do mundo, os perigos e obstáculos a serem superados no espaço público aparecem como necessários para a mulher se fortalecer, muito embora esse aspecto possa ser útil para as mulheres de classe média, suburbana, que tem uma vida limitada à casa e ao marido, mas não podemos dizer que essa situação resolva a questão da dependência da mulher ao homem, haja vista os vários casos que conhecemos em que as mulheres atuam profissionalmente, são bem-sucedidas, mas se deixam controlar pelos maridos ou por um outro a quem ela delega poderes de protegê-la.

Em uma das cenas, um dos bandidos aprendeu a temê-la, pois achava que ela tinha se tornado má. Segundo ele, uma pessoa quando degusta a maldade adquire força, poder. Talvez, em contraposição a benevolência de esposa e mãe dedicada e de sua vida doméstica de concessões, ser "má" deu a protagonista um sentido para viver, para se colocar na disputa pela sua própria vida, antes controlada pelo marido.

O filme é simplesmente fantástico, embora com alguns clichês, mas que em nenhum momento tira o seu valor ou compromete o propósito. Em geral, filmes desse gênero colocam a mulher em situação de perigo, mas a proteção de um herói que deverá resgatá-la. Esse filme não traz herói algum. É a mulher que tem que se defender para sobreviver.

Vale a pena assistir!

No final do filme, uma música de Bryan Ferry, muito oportuna, é tocada. Chama-se Em cada casa dos sonhos uma tristeza (In Every Dream Home a Heartache). Segue a letra com a tradução:


IN EVERY DREAM HOME A HEARTACHE

In every dream home a heartache
And every step I take
Takes me further from heaven
Is there a heaven?
I`d like to think so
Standards of living
They´re rising daily
But home oh sweet home
It´s only a saying
From bell push to faucet
In smart town apartment
The cottage is pretty
The main house a palace
Penthouse perfection
But what goes on
What to do there
Better pray there
Open plan living
Bungalow ranch style
All of its comforts
Seem so essential
I bought you mail order
My plain wrapper baby
Your skin is like vinyl
The perfect companion
You float in my new pool
De luxe and delightful
Inflatable doll
My role is to serve you
Disposable darling
Can´t throw you away now
Immortal and life size
My breath is inside you
I´ll dress you up daily
And keep you till death sighs
Inflatable doll
Lover ungrateful
I blew up your body
But you blew my mind
Oh Those Heartaches
Dreamhome Heartaches

TRADUÇÂO

EM CADA CASA DOS SONHOS UMA TRISTEZA

Em cada casa dos sonhos uma tristeza
E cada passo que dou
Me leva mais longe do paraíso
Existe um paraíso?
Eu gostaria de pensar que sim
Padrões de vida
Aumentam diariamente
Mas lar, doce lar
É só uma frase
Da campainha à torneira
Em apartamentos da cidade
O chalé é bonito
A casa principal, um palácio
A cobertura é perfeita
Mas o que acontece lá?
O que se faz lá?
É melhor rezar lá
Viver em lofts
No estilo bangalô
Todos os seus confortos
Parecem tão essenciais
Eu comprei pelo correio
A minha querida em papel de embrulho
A sua pele é como vinil
A perfeita companheira
Você flutua em minha nova piscina
De luxo e delícias
Boneca inflável
Meu prazer é servi-la
Querida descartável
Não posso jogá-la fora agora
Imortal e em tamanho natural
Minha respiração está dentro de você
Eu a visto diariamente
Vou mantê-la até a morte chegar
Boneca inflável
Amante ingrata
Eu explodi o seu corpo
Mas você explodiu a minha mente
Oh, querida
A casa dos sonhos é triste

domingo, 13 de dezembro de 2009

LANÇAMENTOS EM 2010

Em 2010, temos, pelo menos, dois lançamentos garantidos de duas grandes diretoras. Um deles chama-se It's Complicated  (sem tradução para o português ainda), uma comédia romântica da norte-americana Nancy Meyers (foto ao lado) cujo lançamento está previsto para 26 de fevereiro, e o outro é um drama da diretora neozelandesa Jane Campion (ao lado e abaixo) que se chama Brilho de Uma Paixão (Bright Star) previsto para 12 de fevereiro. Em seu filme, Campion trata do romance entre o poeta inglês John Keats e Fanny Brawne.

Campion assina o roteiro e a direção, assim como Meyers.

No elenco, Nancy Meyers conta em seu filme com a atriz Meryl Streep e os atores Alec Baldwin e Steve Martin nos papéis principais. Já Campion aposta nos atores menos conhecidos para o grande público: o inglês Ben Whishaw e a australiana Abbie Cornish (Campion já havia trabalhado antes com outra australiana: a atriz Nicole Kidman no filme Retrato de Uma Mulher).

Nancy Meyers e Jane Campion têm se firmado com diretoras e roteiristas com grande número de trabalhos realizados. Nancy Meyers dirigiu filmes como Alguém tem que Ceder (Somethings Gotta Give, 2003), Amor Não Tira Férias (The Holliday, 2006) e Do que As Mulheres Gostam (What Women Want, 2000). A sua estréia foi em 1988 dirigindo o filme Operação Cupido (The Parent Trap). Jane Campion ficou muito conhecida com o premiado filme (oito indicações) O Piano (The Piano, 1993), com o qual venceu na categoria melhor roteiro, atriz e atriz coadjuvante, e Retrato de Uma Mulher (The Portrait of a Lady, 1996), neste filme o roteiro é de Laura Jones baseado no livro de Henry James.                 

As duas, de maneira diferente, têm tematizado questões importantes em seus filmes, centrando-se nas personagens femininas, mostrando como as mulheres se movimentam em espaços muitas vezes hostis a elas.
É agendar para ver.

sábado, 12 de dezembro de 2009

UMA CENA PRIMOROSA: OS PAPÉIS ALTERNADOS



Cena (00:10), a perna da Sra. Robinson aparece em primeiro plano, flexionada, formando um triângulo (alusão ao triângulo amoroso?) e dentro da área do triângulo, como se emoldurado e envolvido (ou tentando), aparece todo o corpo inerte e apavorado de Benjamin Braddock, personagem performatizado por Dustin Hoffman.

Depois de analisar alguns indícios como: tê-lo conviado para ir a sua casa, oferecer uma bebida,  colocar uma música e informá-lo de que o Sr. Robinson estaria ausente por horas, Braddock chega a seguinte conclusão em relação às intenções da Sra. Robinson:

Ele: Mrs. Robinson, you are trying to seduce me. (Sra. Robinson, você está tentando me seduzir)
Ela: (ri, passando os dedos pelas pontas do cabelo).

Há gestos que dizem mais que qualquer palavra.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

GRANDES ATRIZES, IN MEMORIAN

"Acontecem mais coisas na face de Bancroft em dez segundos do que na face da maioria das mulheres em dez anos". William Gibson (roteirista de O Milagre de Anne Sulivan)


Recentemente revi o filme Colcha de Retalhos (How to Make an American Quilt, 1995), de Jocelyn Moorhouse,  e, observando atentamente um elenco de mulheres idosas com atuações sublimes,   incluindo a lendária Jean Simons, me chamou a atenção a expressividade na face de Anne Bancroft, daí ter escolhido o enunciado de William Gibson como epígrafe. Impossível assitir a um filme com Anne Bancroft sem esperar ansiosamente por um close up e ver suas sombrancelhas arquearem-se seja para expressar alegria, desapontamento, ódio, entre tantas outras emoções humanas. Uma atriz que envelheceu lindamente e talentosamente.

Em toda a sua filmografia, Bancroft foi indicada para alguns prêmios, mas conseguiu apenas um Oscar de melhor atriz em O Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker, 1962), baseado em um livro autobiográfico de Helen Kellner, Bancroft faz o papel de uma tutora que ensina a uma menina cega como interagir com o mundo. Mas, sem dúvida, a atriz ficou conhecida internacionalmente como a mulher madura que seduz o filho do amigo do seu marido vivido por Dustin Hoffman em A Primeira Noite de Um Homem (The Graduate, 1963). Além disso, o filme contou com a canção Mrs. Robinson feita por Paul Simon exclusivamente para o filme e executada pela dupla Simon & Garfunke.

Sobre os roteiros, Anne Bancroft dizia preferir atuar em poucos projetos mesmo que fossem de apenas uma página, porque, segundo ela, "há pouquíssimos bons roteiros, até mesmo para Julia Roberts". Parece-me que há uma geração de atrizes deixando espaços vazios por falta de outras atrizes qualificadas que possam preenchê-lo com o mesmo talento. Para quem vem do teatro, essa tarefa parece ser mais árdua, pois a formação teatral acaba dando aos atores um background cênico, performático, que não vemos em atrizes sem essa formação. Bancroft diz muito com a face. São movimentos que dispensam falas e que é obviamente captado pelo olhar da câmera que ao transformar um momento em uma eternidade, nos dá o real conceito da imortalidade. O que fica e não morre é a memória recontada. É tudo o que o espírito produz para tocar, alterar, modificar outros espíritos para que transcenda.

Abaixo, segue a filmografia com meus destaques em negrito.

2005 - Delgo (voz)
2002 - Em Roma na Primavera (The Roman Spring of Mrs. Stone)
2001 - In search of peace (voz)
2001 - Doce Trapaça (Heartbreakers)
2001 - Haven (TV)
2000 - Uma Paixão em Florença (Up At The Villa)
2000 - Tenha Fé (Keeping the Faith)
1999 - Deep in my heart (TV)
1998 - FormiguinhaZ (AntZ)
1998 - Mark Twain's America in 3D (voz - narrador)
1998 - Grandes Esperanças (Great Expectations)
1997 - O impaciente (Critical care)
1997 - Até o Limite da Honra (G.I. Jane)
1996 - Na trilha do sol (Sunchaser, The)
1996 - Homecoming (TV)
1995 - Drácula - Morto, mas Feliz (Dracula: Dead and Loving It)
1995 - Morto, mas feliz (Dracula: Dead and loving it)
1995 - Feriados em Família (Home for the Holidays)
1995 - Colcha de Retalhos (How to Make an American Quilt)
1994 - Mother, The (TV)
1994 - Tempos de guerra (Oldest living confederate widow tells all) (TV)
1993 - Mr. Jones (Mr. Jones)
1993 - Malícia (Malice)
1993 - A Assassina (Point of No Return)
1992 - Poção de amor nº 9 (Love potion nº 9)
1992 - Lua-de-mel a Três (Honeymoon in Vegas)
1992 - Mrs. Cage (TV)
1992 - Broadway bound (TV)
1989 - Na trilha da fama (Bert Rigby, you're a fool)
1988 - Essa estranha atração (Torch song trilogy)
1986 - Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (84 Charing Cross Road)
1986 - Noite de desamor ('Night mother)
1985 - Agnes de Deus (Agnes of God)
1984 - Fala Greta Garbo (Garbo talks)
1983 - Sou ou não sou (To be or not to be)
1980 - O gorducho (Fatso)
1980 - O Homem-Elefante (The Elephant Man)
1977 - Momento de Decisão (The Turning Point)
1976 - A violentada (Lipstick)
1976 - A última loucura de Mel Brooks (Silent movie)
1975 - O Dirigível Hindenburg (The Hindenburg)
1974 - Banzé no Oeste (Blazing Saddles)
1974 - O Prisioneiro da Segunda Avenida (The Prisoner of Second Avenue)
1974 - Banzé no oeste (Blazing saddles)
1972 - As Garras do Leão (Young Winston)
1967 - A Primeira Noite de um Homem (The Graduate)
1967 - I'm getting married (TV)
1966 - Sete mulheres (7 women)
1965 - Uma vida em suspense (Slender thread, The)
1964 - vos (Pumpkin eater, The)
1962 - O Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker)
1957 - Os indomáveis (Restless breed, The)
1957 - A Garota das Meias Pretas (The Girl in Black Stockings)
1956 - A maleta fatídica (Nightfall)
1956 - Honra de selvagens (Walk the proud land)
1955 - O tirano da fronteira (Last frontier, The)
1955 - O salário do pecado (Naked street, The)
1955 - A noite conspira com a morte (A life in the balance)
1955 - O código do diabo (New York confidential)
1954 - A besta negra (Gorilla at large)
1954 - Vingança Terrível (The Raid)
1954 - Demétrio e os gladiadores (Demetrius and the gladiators)
1953 - Kid from left field, The
1953 - O tesouro do condor de ouro (Treasure of the golden condor)
1953 - Sinfonia eterna (Tonight we sing)
1952 - Almas Desesperadas (Don't Bother to Knock)

domingo, 6 de dezembro de 2009

MUNDO DE BANDIDOS E PROSTITUTAS: O SÉCULO XIX

É com esse enunciado que o filme A Dama das Camélias (La Dame Aux Camelia, 1981) termina.  O filme é baseado no romance de Alexandre Dumas Filho e narra a história de Alphonsine Plessis, no filme interpretado por Isabelle Huppert, na pele de uma jovem, pobre, que vai para Paris e se torna a cortesã mais disputada entre os nobres.

Em busca de melhores condições de vida, na França dos nobres e dos párias do século XIX, a jovem só tinha uma saída para sobreviver dignamente: tonar-se prostituta. Parece contraditório, mas a única via de ascensão das mulheres pobres as levaria inevitavelmente muitas delas à morte física prematura, como aconteceu com Alphosine.

A versão francesa, bem diferente da norte-americana, estrelada por Greta Garbo, mostra a sociedade burguesa e seus jogos de sedução, suas divisões de esferas entre o público e o privado, ricos e pobres e, sobretudo, os impedimentos simbólicos das regras sociais que limitavam as mulheres de terem acesso ao dinheiro e à propriedade, a menos que fossem prostitutas. Em outras palavras: as prostitutas gozavam de certa autonomia e poder.

A desigualdade de classe e o abismo entre a abastada burguesia e os pobres campesinos são alarmantes. A extravagância e o luxo dos ricos contrastam com a extrema miséria dos pobres que mal tem o que comer. Há uma cena em que uma menina doente oferece um prato de comida a Alphonsine e que ao vê-la comer com avidez tem uma crise de gargalhadas por achar exótico, um espetáculo grotesco uma jovem da mesma idade comendo com as mãos, ferozmente, tão feroz quando o sistema que a exclui. Mas nem só as mulheres pobres se prostituem no filme e na França do século XIX, os homens também viram cafetões. Nesse caso, o pai de Alphonsine, que tem com ela uma relação incestuosa, a vende para vários homens em troca de dinheiro.  A sociedade burguesa não apenas criou um fosso entre as classes, mas "plantou" e intensificou na sociedade ocidental a exploração sexual como negócio, tranformando mulheres pobres em prostitutas e homens em malandros e cafetões.

Filme: A Dama das Camélias (La Deux Aux Camelia)
Ano: 1981
Produção: Itália/França
Direção: Mauro Bolognini
Roteiro: Enrico Medioli
Elenco principal:
Isabelle Huppert....................Alphonsine Plessis
Bruno Ganz...........................
Fabrizio Bentivoglio ..............
Carla Fracci .........................
Clio Goldsmith .....................
Gian Maria Volontè .............
Mario Maranzana ................
Yann Babilée ......................

A ética e o mérito nas produções acadêmicas

Em meio a tantas coisas que nos deixam tristes em nosso cotidiano, eis que nos deparamos com uma postura que muito nos faz acreditar em...